sábado, 17 de dezembro de 2011

SOU PROFESSORA, MAS NÃO PROFESSO SACERDÓCIO ALGUM!


Pela Professora da rede municipal de Itaboraí, Josefina Alvares Azevedo.

   Tenho sim, uma profissão que de tão essencial às vezes pode parecer banal. Meu trabalho pode ser comparado a visão. Só os privados de seus benefícios é que compreendem a sua importância. 


   Minha função é possibilitar o surgimento de seres humanos mais criativos e críticos que tenham consciência cidadã de seus direitos e estejam engajados na construção de uma sociedade mais justa.

   Por mais bela que a palavra sacerdócio possa soar, ela possui significado completamente distinto ao que faço. Mais importante: comparar o magistério ao sacerdócio é querer acorrentá-lo a imagem de uma profissão sem pretensões concretas e sem necessidades terrenas. Chamar o magistério de sacerdócio é fazer caricatura do professor, é desenhá-lo como um ser alienado da realidade que o cerca e oprime. 

   Como professora planifico o caminho às gerações futuras. Não anuncio promessas à vida do além túmulo. Acredito na construção do paraíso terrestre aqui e agora como nos diz Leonardo Boff. Não semeio esperanças, mas construo a realidade como diz Sartre. Não falo de ilusões, mas incentivo os sonhos como fez Paulo Freire, Anisio Teixeira, Darcy Ribeiro e tantos outros grandes professores. 



   Não sou uma freira trapista que por ter feito voto de pobreza vive da caridade alheia. Também não sou uma monja budista que só se alimenta quando encontra alguém que lhe dê comida. Não desprezo quem fez estas opções, apenas quero que valorizem as minhas escolhas. 

   Sou uma guerreira que apesar das vicissitudes assume o ônus de educar os filhos de outras mulheres que estão na luta pela construção de uma sociedade mais justa.

   Amo profundamente o que faço, mas não tenho ilusões sobre este amor. Sei que minha dedicação e amor não são revestidas de bônus. 



   Todo mês quando passo pelo caixa do supermercado não posso pagar minhas compras com um abraço. O gerente do banco não vai perdoar os juros do cheque especial só porque eu fui capaz de ensinar 30 crianças a ler e a escrever em menos de um ano. O amor não pagou minha faculdade e é bem certo que não pagará os livros que terei que ler para acompanhar as demandas de minha função.

   O Brasil, em especial Itaboraí, vive seu esplendor econômico. A Petrobras está investindo 30 bilhões de Reais no COMPERJ e eu me pergunto:
   Como pode tanto investimento para gerar renda e emprego se o magistério , eixo de todo e qualquer desenvolvimento, é tratado com tanto desrespeito?
   Por que nossos aumentos são dados como se fossem caridade?
   Por que nosso plano de carreira espera desde de 2009 para ser aprovado pelos nossos vereadores?
   Por que os professores são os últimos a serem, ouvidos pelas autoridades publicas desta cidade?

   Sei que dirão que estou supervalorizando minha profissão, que a estória não é bem assim, que Itaboraí precisa de engenheiros, médicos, biólogos, artistas, escritores, analistas de sistemas e uma série de outros profissionais, pois só assim conseguiremos aumentar a qualidade de vida e fazer de nossa cidade um lugar feliz para todos...

   Mas se não tivermos uma educação de base excelente com professores bem remunerados estaremos dando um tiro no pé.

   O futuro passa pelas mãos dos professores e se queremos um futuro melhor é precisamos nos sentir valorizados. Mas se continuarmos tratando professor como profissional de segunda linha precisaremos contratar muitos sacerdotes para que estes celebrem o funeral do futuro glorioso de Itaboraí.

   Josefina, educadora, professora, e até tia... mas sacerdote não! 

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