quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma feira do livro, e alguns sonhos perdidos...

Uma feira do livro,
e alguns sonhos perdidos...

Este dia parecia especial, realmente, não seria um dia qualquer. Levar os meus alunos para uma feira de livros cujos homenageados eram simplesmente fascinantes, era demasiado encantador, sair da rotina e ao mesmo tempo, incentivá-los o gosto pelos livros.

Antes de partimos ouço palavras da minha aluna que penetraram no âmago do meu ser, uma realização de um trabalho penoso mais do que gracioso. Assim foram suas palavras: “Tio quero comprar um livro da Cecília Meireles!”. Essas palavras me emocionaram, meus olhos brilharam, “depois de mais de dois meses trabalhando com seus poemas, eles conseguiram encantar um dos meus alunos”. Depois desse lapso reflexivo, comentei com ela que procuraríamos exaustivamente pelos livros dela, logo o resto dos meus alunos se encantaram pela ideia de comprar livros da Cecília - “Ah!! Consegui!” , era uma realização.

Partíamos como se fossemos para um mundo maravilhoso, nem percebemos o estado precário da nossa nave espacial. Depois de alguns minutos eufóricos, embalados pelas músicas alegres das crianças, chegamos ao nosso destino.

Aos poucos as ilusões foram se desfazendo...

Poucas crianças em comparação ao número de adolescentes, se drogando, bebendo, fumando, (até sentados na porta na porta da igreja aberta, com o odor do cigarro invadindo todo aquele espaço sagrado, e o pior com um indivíduo responsável da igreja ao lado) entorpecendo-se sem parar. Depois de uma longa animação teatral, fomos a busca dos livros da Cecília. As crianças iam de um lado pro outro, das pequenas banquinhas de livros, sem nada encontrar. Na última banquinha, minha aluna apaixonada por Cecília, perguntou injuriosa ao vendedor: “Aqui não tem nenhum livro da Cecília Meireles não?” obteve somente a resposta seca

e besta do vendedor: “ Aqui só tem livro infantil!”. Era o fim de um sonho, mais um de muitos que enfrentaria ao decorrer da sua vida, e eu não pude fazer nada. Afinal, o que eu poderia fazer?

Um outro aluno pensativo e inquieto desde o início do passeio perguntou: “Professor, cadê os livros de literatura infanto-juvenil?” - É esses meus alunos eram mais espertos que pensavam, já sabiam até o tipo de literatura que gostavam de ler! - “Tem alguns, mais realmente são poucos!”; Meu aluno retrucou: “Poucos e caros!”.

Passeamos pela praça com dificuldade, com adultos sem

educação empurrando as pobres crianças, explanando a importância histórica de todo aquele conjunto de prédios antigos, até pararmos numa fila quilométrica para o pula-pula. Depois de algumas horas, partimos para a oficina marcada para a nossa escola.

Mais uma desilusão...(quanto mais aquelas doces crianças iriam sofrer?). O material da oficina de pulseira tinha acabado, tentando resolver o problema, meus alunos cataram fios de náilon no chão, para tentarem fazer pelo menos uma pequena pulseira para os seus braços já tão miúdos.

Enfim, nosso tempo na feira do livro se findou, e fomos embora.

Deixamos a feira e os nossos sonhos...


Por Dermeval Marins

Um comentário:

  1. Fiquei muito sensibilizada com o seu texto. é triste ver como um evento como A Feira do Livro de Itaboraí, marcada na Agenda Cultural do Estado, é tratada de forma tão displicente e desorganizada. Uma triste realidade...Que não tem justificativa plausível pois como sabemos, outros municípios do Conleste estão com projetos Culturais, além de outros, sabendo utilizar os benefícios que o Complexo Petroquimico está trazendo para a Região.

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